Para este ciclo, a Luísa Sequeira apropria-se da frase de Sophia de Mello Breyner, A poesia ainda habita as ruas?, para propor uma seleção de temas do exílio e da transgressão, evocando o cinema como arte espectral que nos leva a lugares imaginários e a espaços de memória em trânsito.
Além dos filmes, serão apresentadas duas performances, que abordam práticas poéticas do cinema e dos media emergentes em tempo real.
Sábado 02/03
16h00
Revolução (1975)
Realização: Ana Hatherly
Apresentado pela primeira vez na Bienal de Veneza, em 1976, o filme Revolução (1975) faz parte desse núcleo de obras de curta-metragem. Filmado nas ruas de Lisboa, no pós-25 de Abril, com uma câmara Super 8, documenta os cartazes de propaganda política, os grafitos e os murais de ideologia revolucionária inscritos nas paredes da cidade. A um ritmo veloz, as imagens registadas e a montagem do filme representam exemplarmente a manifestação plural de vozes na cena política portuguesa, bem como a participação coletiva e a euforia contagiante vivida no espaço público. Testemunho evocativo do ambiente social e político que marcou o período revolucionário da história contemporânea portuguesa, este trabalho revela, simultaneamente, a relação da artista com a cidade de Lisboa e o mundo envolvente. Ana Hatherly regista, documenta, atua nas ruas da cidade, posicionando-se criativamente perante as características marcantes da cultura urbana num momento tão significativo da história portuguesa.
Os Cravos e a Rocha (2016)
Realização: Luísa Sequeira
Em 25 de Abril de 1974, o iconoclasta cineasta brasileiro Glauber Rocha está em Portugal e entra no filme coletivo da revolução dos cravos As Armas e o Povo. Com o seu olhar estrangeiro e peculiar, rompe com as regras convencionais de se fazer cinema. Sobre este filme, Jorge Campos disse: «A sua participação em As Armas e o Povo (1974), um dos filmes míticos da Revolução de Abril feito por um coletivo do qual faziam parte alguns dos mais importantes cineastas portugueses da altura, não foge a esse registo.» «Sem linguagem nova, não há realidade nova», dizia Glauber. De certa forma, é disso que trata o documentário de Luísa Sequeira Os Cravos e a Rocha, no qual o vemos em ação, porventura dando corpo àquilo que é a chave do seu universo, revelada em epígrafe: «A Política e a Poesia são demais para um só homem.»
A poesia ainda está na rua?
performance de Luísa Sequeira
Duração: 10 minutos
A performance de cinema A poesia ainda está na rua? é uma viagem cinematográfica cosmopoética concebida em tempo real. A partir de um vasto arquivo pessoal e de diversos fragmentos cinematográficos, nesta performance ao vivo emerge um filme-poema. Trata-se de uma montagem ― memória que desafia a estrutura narrativa convencional, quebra a continuidade temporal e desloca as imagens em movimento, dando origem a um novo tempo, a um cinema expandido. Nesta performance, a artista utiliza o próprio dispositivo cinematográfico e tecnológico para refletir no poder da poesia num mundo dominado pela rapidez.